A capoeira, como fenômeno nacional, é a expressão de uma síntese de gestos e movimentos que caracterizam a herança  africana das nações Bantos.

Dela, pouca informação acadêmica e histórica foi constituída, se considerarmos o conjunto das pesquisas realizadas no Brasil a respeito da nossa memória social. Alguns fatores podem ser tomados para prova desse abandono. Em primeiro lugar, está a importância exagerada que as maiorias dos historiadores deram, e continuam dando, ao documento escrito, e que exclui, já de saída, os fatos e acontecimentos que marcaram nossa historia, mas que foram agenciados pelos vencidos e se mantiveram na memória nacional, não como documento escrito, mas como documento de outra natureza, marcado pela oralidade e pelo signo corporal.

Este fato ajudaria a compreender como uma expressão e fonte de memória de um povo conseguiram se manter durante 300 anos, preservando ainda muitos de seus movimentos iniciais.

A natureza oral e corporal da memória do povo brasileiro deve merecer um tratamento mais adequado, onde as preocupações com a recuperação da memória, e o aprimoramento de sua linguagem, ganhem lugar de destaques nos projetos de recuperação da identidade nacional.

Este argumento adquire sentido quando admitimos que nos últimos 30 anos testemunhamos o reaparecimento efetivo da capoeira no cenário nacional. A capoeira saiu do gueto a que ficara confinada como herança da discriminação aos africanos e seus descendentes desde o inicio da republica, e conquistou a juventude da classe media e universitária.

Consubstanciando este processo, assistimos a redescoberta da capoeira pela universidade quando verificamos o surgimento de inúmeras teses acadêmicas, de mestrado e doutorado que, no Brasil e nos Estados Unidos, contribuíram para revelar informações até então desconhecidas. Um trabalho de pesquisa baseado em depoimentos, documentos dos arquivos, ou ainda na observação simbólica dos movimentos do jogo da capoeira, deram atônica e lançaram novas luzes sobre este fenômeno cultural brasileiro.

Desde o final da década de 80, verificamos que a capoeira tem servido de instrumento para a liberação da consciência, seja através da sua utilização em projetos de alfabetização, recreação e terapia corporal – como no exemplo de Roberto Freire -, ou ainda como instrumento do processo educacional.

Mais recentemente, sua contribuição à educação se tornou realidade, concretizando o sonho de Coelho Neto, nosso escritor que um dia descobriu a capoeira e por ela se encantou, tendo, inclusive, recomendado ao Ministério da Educação, sua adoção no ensino elementar.